Investida atéia pretende que o nada produziu o Universo (2)
Ciência e Tecnologia

Investida atéia pretende que o nada produziu o Universo (2)


Stephen Hawking tem muito prestigio nos ambientes anti-católicos. Na foto, com Obama.
continuação do post anterior

Gleiser toca num ponto para o qual acenamos aqui apenas de passagem: Sendo a inteligência do homem limitada, por mais que avancem os estudos da física, jamais o homem chegará à compreensão final, última, da matéria, do fenômeno da vida, da alma espiritual; numa palavra, do Universo criado.

Só a mente divina compreende tudo até o fim. Por mais que o homem progrida nos seus conhecimentos, desfechará sempre no mistério, que lhe abrirá novas portas para a investigação, sem que jamais chegue à compreensão total e final.



Com Deus é diferente. Não só foi capaz de criar este mundo, com todas as suas complexidades, como poderia criar muitos outros mundos, porque é onipotente. Isso, que desconserta os sábios, as crianças aprendem no Catecismo...

Nossa Terra não seria um fenômeno raro no Universo

Em sua recensão do livro de Hawking, Stefano Zecchi observa que ele apresenta uma segunda ordem de argumentos para tentar mostrar que não há nenhum intuito sapiencial que postule a intervenção de um ser divino na existência do Universo: “Hawking recorda a descoberta, em 1992, de um planeta que orbita uma estrela de modo semelhante ao da Terra em torno do Sol.

Deus Pai
Isto confirma, a seu juízo, que o caso terrestre não é único. Ora, considerando que é altamente provável que não só existam outros planetas semelhantes à Terra, mas inclusive outros universos, Hawking se pergunta: se Deus tivesse querido criar o Universo com a finalidade de criar o homem, que sentido teria acrescentar todo o resto?”.

É precisamente a este tema que Marcelo Gleiser consagra o segundo artigo que escreveu, sob o título “Quão rara é a vida?” (“Folha de S. Paulo”, 19-9-2010, pág. A23). Diz ele:

“Outro argumento que Hawking usou é que o Universo é especialmente propício à vida, em particular à vida humana. Mais uma vez vejo a necessidade de apresentar um ponto de vista contrário. Tudo o que sabemos sobre a evolução da vida na Terra aponta para a raridade dos seres vivos complexos. Estamos aqui não porque o Universo é propício à vida, mas apesar de sua hostilidade.


“Note-se que, ao falarmos sobre vida, temos de distinguir entre vida primitiva (seres unicelulares) e vida complexa. Vida simples, bactérias de vários tipos e formas, deve mesmo ser abundante no Cosmos”.

Gleiser aceita, portanto, a existência de seres unicelulares espalhados pelo Cosmos. Mas não há nenhum fato que comprove isso, posto que, como ele mesmo admite e é óbvio, “o único exemplo de vida que conhecemos” é aqui na Terra. Em todo caso, ele prossegue:

“Devemos lembrar que seres multicelulares são mais frágeis, precisando de condições estáveis por longos períodos. Não é só ter água e a química correta.

“O planeta precisa ter uma órbita estável e temperaturas que não variem muito. Só temos as quatro estações e temperaturas estáveis porque nossa Lua é pesada. Sua massa estabiliza a inclinação do eixo terrestre (a Terra é um pião inclinado de 23,5°), permitindo a existência de água líquida durante longos períodos. Sem a Lua, a vida complexa seria muito difícil.

“A Terra tem também dois 'cobertores' que a protegem contra a radiação letal que vem do espaço: o seu campo magnético e a camada de ozônio. Viver perto de uma estrela não é moleza. Precisamos de seu calor, mas ele vem com muitas outras coisas nada favoráveis à vida.

“Quem afirma que o Universo é propício à vida complexa deve dar uma passeada pelos outros planetas e luas do nosso Sistema Solar.

“Ademais, o pulo para a vida multicelular inteligente também foi um acidente dos grandes. A vida não tem um plano que a leva à inteligência. A vida quer apenas estar bem adaptada ao seu ambiente. Os dinossauros existiram por 150 milhões de anos sem construir rádios ou aviões. Portanto, mesmo que exista vida fora da Terra, a vida inteligente será muito rara. Devemos celebrar nossa existência por sua raridade, e não por ser ordinária”.

Não deixa de causar perplexidade que uma mente tão privilegiada como a de Hawking não tenha presente dados tão conhecidos como os que Gleiser recorda. E nem mesmo se pergunta como é que da matéria inanimada se passou para os primeiros seres vivos unicelulares, e daí todo o resto, até chegar à vida racional.

De qualquer modo, termina aqui a explanação de Gleiser, sem dúvida por desejar permanecer no seu campo próprio de cientista e não ser acusado de adentrar pela filosofia e teologia. Mas nós, que não estamos adstritos ao campo das ciências naturais, podemos — e devemos — fazê-lo, posto que elas não esgotam a explicação do Universo.'

Finalidade do homem: a contemplação sacral do Universo

Após mencionar a pergunta de Hawking sobre por que Deus criou todo o Universo, se seu intuito fosse apenas colocar o homem num planeta adequado para a vida humana, Stefano Zecchi observa judiciosamente:

“Qual o sentido, qual o significado do Universo, do homem? A pesquisa científica tenta (sempre tentou) prender numa jaula esse fastidioso, cientificamente inoportuno significado [do Universo] e jogar fora a chave. Mas enquanto existir o homem, essa jaula nunca poderá ser trancada, porque, enquanto existir o homem, que tem o lume da razão, ele não renunciará a perguntar-se sobre o significado da vida e da morte, do mal e da beleza”.

Aí está a resposta para a pergunta de Hawking: Deus não fez o mundo apenas para atender às necessidades vegetativas e animais do homem, mas para que ele, contemplando o Universo, conhecesse, amasse e servisse o seu Criador, e nessa contemplação sacral alcançasse o grau de felicidade possível nesta Terra, prelúdio da felicidade eterna no Céu.

(Fonte: Antonio Augusto Borelli Machado, “Catolicismo”, Novembro de 2010).



As criaturas são vestígios, representações e sinais que nos ajudam a ver a Deus

"Do Itinerário da Mente para Deus" de São Boaventura

Santa Hildegarda contempla a Criação
As criaturas são, efetivamente, uma sombra, um eco e uma pintura daquele Primeiro Princípio potentíssimo, sapientíssimo e boníssimo — daquele que é a eterna fonte, a luz, a plenitude, a causa, o exemplar e a ordenação de tudo. Elas são os vestígios, as aparências, as representações e os sinais divinamente apresentados aos nossos olhos para nos ajudarem a ver a Deus na criação (op. cit. II, 11).

Cego é, por conseguinte, quem não é iluminado por tantos e tão vivos resplendores espalhados na criação. É surdo quem não acorda por tão fortes vozes. É mudo quem em presença de tantas maravilhas não louva o Senhor. É insensato, enfim, quem com tantos e tão luminosos sinais não reconhece o primeiro Princípio.

Abre, pois, os olhos e inclina o ouvido de teu espírito, desata teus lábios e dispõe teu coração para que, em todas as criaturas, vejas, ouças, louves e ames a teu Deus, se não quiseres que todo o universo se levante contra ti. Um dia toda a criação se erguerá contra os insensatos (Sap. 5, 21), ao passo que será motivo de glória aos sensatos, os quais podem dizer com o profeta: Senhor, a visão de tuas criaturas me encheu de gozo. Exulto perante o espetáculo de tuas mãos. Como são grandiosas, Senhor, as tuas obras! Tudo fizeste com sabedoria. Toda a terra está cheia de teus bens (op. cit. I, 15).

As perfeições invisíveis de Deus, desde a criação do mundo, se vêem visivelmente através do conhecimento que as criaturas dele nos dão. De maneira que são indesculpáveis (Rom. I, 20) os que não querem considerar tais coisas e recusam, com isso, reconhecer, bendizer e amar a Deus na criação, porque estes não querem passar das trevas à admirável luz de Deus (op. cit. II, 13).


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