Publicado no AOL- Educação em 13/09/2005
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A vida em grandes metrópoles como São Paulo, Tóquio, Nova York e Paris, apresenta uma série de vantagens que tornam essas cidades especiais. Nelas encontramos muitos dos atributos que consideramos sinônimos de progresso, como facilidades de acesso aos bens de consumo, oportunidades de trabalho, lazer, serviços, educação, saúde etc.
Por outro lado, em algumas, devido à grandiosidade e às milhões de pessoas que moram nessas cidades, existem muito mais problemas do que benefícios. Seus habitantes sabem como são complicados o trânsito, a segurança pública, a poluição, os problemas ambientais, a habitação. Sem dúvida, são desafios que exigem muito esforço não só dos governantes, mas também de todas as pessoas que vivem nesses lugares. Essas cidades convivem ao mesmo tempo com a ordem e com o caos, com a pobreza e com a riqueza, com a beleza e com a feiúra.
A tendência das coisas se desordenarem espontaneamente é uma característica fundamental da natureza. Para que ocorra a organização é necessária alguma ação que restabeleça a ordem. É o que acontece nas grandes cidades. Despoluir um rio, melhorar a condição de vida dos seus habitantes e diminuir a violência, por exemplo, são tarefas que exigem muito trabalho e não acontecem espontaneamente. Se não houver nenhuma ação nesse sentido a tendência é que a desorganização prevaleça.
No nosso cotidiano percebemos que é mais fácil deixarmos as coisas desorganizadas do que em ordem. Quando espalhamos objetos pela casa temos muito trabalho para colocarmos as coisas em ordem. Organizar é sempre mais difícil que bagunçar. A ordem tem o seu preço.
A existência da ordem/desordem está relacionada com uma característica fundamental da natureza que denominamos entropia. A entropia está relacionada com a quantidade de informação necessária para caracterizar um sistema. Dessa forma, quanto maior a entropia, mais informações são necessárias para descrevermos o sistema.
Para facilitar a compreensão deste conceito podemos fazer uma analogia com algo bastante comum: cartas de baralho. Se inicialmente tivermos o baralho com as cartas organizadas de acordo com a sua seqüência e naipes, o nosso sistema (baralho) contém um certo grau de informação. Rapidamente descobrimos qual é a regra que está organizando as cartas. Por outro lado, quando embaralhamos as cartas, bastam apenas alguns movimentos para que a seqüência inicial seja desfeita, ou seja, as cartas ficaram mais desorganizadas. Para recolocá-las na ordem inicial necessitaremos de muito mais informações a respeito da posição da carta (teremos que descobrir onde está o 5 de copas para colocá-lo após o 4 de copas). As cartas embaralhadas apresentam, então, uma entropia maior do que as cartas organizadas.
A manutenção da vida é um embate constante contra a entropia. A luta contra a desorganização é travada a cada momento por nós. Desde o momento da nossa concepção, a partir da fecundação do óvulo pelo espermatozóide, o nosso organismo vai se desenvolvendo, ficando mais complexo. Partimos de uma única célula e chegamos na fase adulta tendo trilhões delas especializadas para determinadas funções. A vida é, de fato, um evento muito especial, e, até o momento, sabemos que ela ocorreu em apenas um único lugar do universo, o nosso planeta.
Entretanto, com o passar do tempo o nosso organismo não consegue mais vencer essa batalha. Começamos a sentir os efeitos do tempo e envelhecer. O nosso corpo já não consegue manter pele com a mesma elasticidade, os cabelos caem e os nossos órgãos não funcionam mais adequadamente. Em um determinado momento, ocorre uma falha fatal e morremos. Como a manutenção da vida é uma luta pela organização, quando esta cessa, imediatamente o corpo começa a se deteriorar, e rapidamente perde todas as características que levaram muitos anos para se estabelecer. As informações acumuladas ao longo de anos, registradas em nosso cérebro a partir de configurações específicas dos neurônios, serão perdidas e não poderão ser novamente recuperadas com a completa deterioração do nosso cérebro.
A entropia nos mostra que a ordem que encontramos na natureza é fruto da ação de forças fundamentais, que, ao interagirem com a matéria, permite que esta se organize. Desde a formação do nosso planeta, há cerca de 5 bilhões de anos, a vida somente conseguiu se desenvolver às custas de transformar a energia recebida pelo Sol em uma forma útil, ou seja, capaz de manter a organização. Quando o Sol não puder mais fornecer essa energia, em 5 bilhões de anos, não existirá mais vida na Terra. Com certeza a espécie humana já terá sido extinta muito antes disso.
O universo também não resistirá ao embate contra ao aumento da entropia. Em uma escala inimaginável de tempo de 10100 anos (10 seguido de 100 zeros!), se o universo continuar a sua expansão que já dura 15 bilhões de anos, tudo que conhecemos estará absolutamente disperso. A entropia finalmente vencerá. Mas essa historia ficará para um outro dia.