Ciência e Tecnologia
Patena eucarística com Cristo em Majestade, uma das mais antigas já achadas
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A patena eucarística com Cristo em Majestade nas mãos de um restaurador. |
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Luis Dufaur
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Na localidade espanhola de Cástulo, província de Jaén, uma equipe de arqueólogos engajados no
Projeto de Investigação Forvm MMX desenterraram e os, depois, especialistas em restauração recuperaram uma peça única do século IV que representa a Nosso Senhor Jesus Cristo em uma patena de fino vidro.
Trata-se de uma das mais antigas imagens do Cristianismo representando o Divino Redentor.
Cástulo é um dos mais ricos sítios arqueológicos da Espanha. Foi uma cidade romana hoje reduzida a ruínas, mas que apresenta uma surpreendente preservação. Nela foram feitas descobertas notáveis, como pisos de mosaicos complexos que podem ser admirados no local.
Um dos edifícios descobertos parecia ter servido de igreja católica e testemunha quão cedo o catolicismo penetrou na Península Ibérica.
No local, durante três anos, os arqueólogos foram retirando pacientemente pequenos fragmentos de vidro das ruínas de uma basílica.
Mas foi só no mês de julho que localizaram fragmentos que “por seu tamanho e pelos desenhos que continham” revelaram “um documento arqueológico excepcional”, segundo explicou à agência AFP o chefe do projeto, Marcelo Castro.
Limpados com extremo cuidado e depois colados, os fragmentos mostraram constituir uma patena, o prato precioso que era colocado sob o queixo do fiel para evitar que algum fragmento do Santíssimo Corpo de Nosso Senhor Eucarístico pudesse cair no chão.
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A jazida arqueológica de Cástulo, local do achado. |
As patenas de séculos mais recentes costumavam ser de ouro ou folheadas a ouro. Outras tinham delicadas gravações com simbolismos eucarísticos.
A riqueza desta humilde peça da cerimônia da Comunhão, na Missa ou fora dela, manifestava a fé de que Jesus está verdadeiramente presente, transubstanciado na hóstia consagrada.
No caso de Cástulo, a patena é de delicado vidro verde, tem 22 cm de diâmetro por 4 cm de profundidade, 2 milímetros de espessura e pesa apenas 175 gramas. Ela pôde ser reconstituída em 81%.
Nela, distingue-se pintada a imagem de três personagens com auréolas. No centro, aparece em majestade um Cristo imberbe, de cabelo curto e encaracolado, segurando uma grande cruz em uma mão e um Livro Sagrado aberto na outra. Ao seu lado, dois apóstolos, que poderiam ser Pedro e Paulo.
Os primeiros cristãos tentaram sempre representar Nosso Senhor Jesus Cristo com os traços mais nobres e elevados que conseguiam imaginar.
E, na patena de Cástulo, Jesus é representado como os mais altos personagens do poderoso Império Romano.
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Cástulo: exemplo de piso romano de mosaico. |
A alta aristocracia das famílias patrícias romanas se barbeava regularmente – fato estranho nas classes inferiores –, usava cabelos curtos, tinha por natureza cabeleiras encaracoladas e se vestia com togas senatoriais, distintivas de sua muito alta posição social, como usa o Cristo da patena.
Representações análogas se encontram nas catacumbas de Roma.
Segundo Castro, o modelo artístico usado denomina-se “alexandrino” e é próprio de uma era remota do Cristianismo. Precisamente da época em que estava saindo da clandestinidade, após séculos de perseguições e um número incontável de martírios.
“Este modelo seria abandonado mais adiante na tradição cristã e se daria preferência a outras formas de representar a Cristo. Mas ele está presente nos primeiros momentos do Cristianismo”, explicou o chefe dos trabalhos.
As patenas feitas de vidro de maior qualidade, como a de Cástulo, provinham ao que tudo indica de Ostia, perto do Roma, onde ficavam os melhores ateliês de trabalhos em vidro. De bom valor, o vidro não tinha se generalizado como em séculos recentes.
Há no mundo poucas peças similares, como um cálice exibido no Museu do Louvre e um vidro dourado no Toledo Museum of Art de Ohio, nos EUA.
As gravuras chamam a atenção pelo seu maravilhoso estado de conservação após 1.600 anos em que a patena fragmentada ficou enterrada, observou o jornal “El Mundo” de Madri.
Quando os cientistas começaram a se fazer uma ideia sólida do inigualável tesouro histórico que tinham em mãos, eles tiveram medo, segundo disseram.
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Patena eucarística recuperada em Cástulo, Espanha, com Cristo em Majestade e Apóstolos. |
Os arqueólogos estavam achando que o prédio estava “a meio caminho entre as catacumbas, as casas clandestinas de culto e as primeiras arquiteturas cristãs de Roma”.
Pois o Cristianismo foi uma religião clandestina, vítima das terríveis perseguições romanas dos séculos II e III.
Entretanto, em meio a tantas dificuldades, os cristãos de Cátulo nada poupavam para proteger a Santíssima Eucaristia de qualquer imprevisto.
Por causa das perseguições, a representação do Filho de Deus era feita com alegorias hoje bem conhecidas: por exemplo, o peixe, cujo acróstico em grego significa “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”.
Somente no século IV – após o glorioso edito de Milão do ano 313, do imperador Constantino, convertido miraculosamente ao Cristianismo – a religião católica foi autorizada e seu culto tornado oficial do Império.
A patena recuperada coincide com esse momento histórico. E então Jesus Cristo é representado em majestade, vencedor das perseguições, triunfante.
Os Santos Apóstolos Pedro e Paulo – ou mais provavelmente eles – são representados juntos com Jesus no mesmo estilo. Eles carregam um pergaminho –
“o rotulus legis”, símbolo do Evangelho e da missão de pregar – e também usam togas, não têm barba e outras características que se afirmaram em séculos posteriores.
A cena tem como fundo o orbe celeste emoldurado entre palmeiras, que na iconografia católica representam a imortalidade e o Céu.
Também está representado o Alfa e o Ômega, o principio e o fim, símbolo da imortalidade, da realeza e da divindade majestosa de Cristo Rei.
“Eu sou o Alfa e o Ômega – diz o Senhor Deus – Aquele que é e que era e há de vir, o Todo-poderoso” (Apocalipse 1, 8).
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Reconstituição da imagem. Cristo em majestade no centro com a Cruz e os Evangelhos. São Pedro e São Paulo aos lados recebendo a missão de pregar. |
Tertuliano, Padre da Igreja, falou de cálices e patenas decorados com a figura do Bom Pastor no século III. E no ‘Liber Pontificalis’, obra que compila as biografias dos primeiros Papas, se faz referência a patenas de vidro durante o papado de Ceferino, nos séculos II e III.
No século IV, uma disposição do Papa Urbano I ordenou que cálices e patenas só fossem de metais nobres como ouro e prata, além de pedras preciosas como ornamento.
É assim que na patena de vidro de Cástulo, observa o jornal “ABC”, de Madri, podemos adorar uma das mais antigas representações iconográficas de Nosso Senhor Jesus Cristo de que se tem notícia.
Emociona considerar a fé daqueles primeiros fieis católicos, que iam saindo das catacumbas e consagravam o melhor de seu pecúlio para honrar dignamente o cerimonial que rodeia a Eucaristia.
Quanta diferença com certas coisas que se veem e se ouvem hoje em dia!
Video: Patena eucarística com Cristo em Majestade
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