Materiais sustentáveis são o futuro das indústrias, cada vez mais preocupadas com produtos e processos que não agridam o meio ambiente, ou que compensem os estragos já feitos. A substituição de materiais como plástico e metais nos produtos é uma tendência irreversível. Pensando nisso, a professora do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Daniella Mulinari, iniciou uma pesquisa com alunos dos cursos de ciências biológicas, design e engenharia ambiental para desenvolver compósitos poliméricos reforçados com fibras naturais, ou seja, a utilização de fibras de frutas e plantas, como bagaço da cana, sisal, juta, curauá, coco e outras, para substituir os materiais não degradáveis, como plástico e metal.
A pesquisa busca descobrir o maior número possível de aplicações industriais para esses chamados "materiais alternativos", de uma forma que eles possam ser mais resistentes e mais baratos que os convencionais e, ainda, ecologicamente corretos. Daniella apontou que a indústria automobilística é um setor que investe pesado nessa área de pesquisa, e que devido ao grande número de empresas do ramo instaladas na região Sul Fluminense, esse será o foco inicial do projeto. - Os materiais alternativos podem se tornar muito importantes na fabricação de peças de automóveis, pois proporcionam qualidade e bem estar ao usuário, além de diminuir significativamente a poluição ambiental. Eles podem ser usados para enchimento de bancos e encostos de cabeça, na fabricação de laterais e painéis de portas, painel de instrumentos e canal de ar, para revestir o teto e até para fazer a caixa de rodas - explicou a professora.
Daniella afirmou ainda que a interdisciplinaridade envolvida na pesquisa é muito importante, porque cada aluno atua em sua área específica, mas não deixa de aprender a utilidade das outras disciplinas. A professora explicou que as ciências biológicas atuam pesquisando a utilidade de determinados tipos de plantas e frutas e suas características. A engenharia ambiental pesquisa a fundo as propriedades desses materiais e descobre fatores como resistência, densidade, durabilidade, etc. O design entra para dar forma e acabamento ao objeto final, de modo que ele seja adaptável às necessidades da empresa e do usuário.
A coordenadora do curso de design do UniFOA, Cristiana Fernandes, disse que apoiou a ideia desde o princípio porque acha que a pesquisa é uma ótima oportunidade de criar vínculos com as empresas da região, mostrando para elas que os alunos podem ser profissionais fundamentais num futuro próximo. "Atualmente temos seis parcerias com empresas que apostam no nosso trabalho. Isso comprova que nossas pesquisas são importantes e muito valorizadas, o que pode gerar ótimas parcerias e também ampliar o mercado de trabalho".
Bom para os alunos
De acordo com a aluna do 6º período de ciências biológicas, Tatiana Maia, é muito interessante fazer parte de uma pesquisa que tenta encontrar aplicações para os resíduos que são abundantes no território brasileiro. - Um dos nossos objetivos é encontrar muitas utilidades para esses resíduos, como o bagaço da cana, que é muito descartado pelo país. É ótimo descobrir algo inovador e, ainda por cima, proteger o meio ambiente", apontou.
Seguindo a mesma tendência, o curso de design do UniFOA aposta na reutilização de materiais não degradáveis que seriam jogados na natureza. O projeto mais recente do curso é uma proposta enviada para uma montadora de automóveis da região que sugere a fabricação de luminárias feitas de polionda - material que embala as peças automotivas - para serem distribuídas como brindes especiais.
Além disso, alunos do curso estão sempre empenhados em desenvolver soluções alternativas para materiais que seriam descartados. Cadeiras, poltronas, porta-objetos, frascos de perfume e muitos outros itens já foram produzidos a partir da reutilização de materiais descartados por empresas. A coordenadora do curso lembra que isso não é um trabalho artesanal, mas uma proposta empresarial. "Esses projetos são importantes porque as empresas passam a perceber como um trabalho de design dentro da empresa é valioso, sendo que, além de evitar poluir o meio ambiente, ele ainda traz lucro", afirmou. -O que precisa ficar claro é que a ideia não é fazer um ou dois objetos apenas, porque isso é artesanato. Queremos implantar uma linha de produção nas empresas para que o detrito vire um bem de consumo automaticamente".
O aluno João Vitor dos Santos, que cursa o 6º período do curso e participou do projeto da luminária, confirma que é possível, sim, beneficiar empresa e meio ambiente. - Tenho certeza que essa linha de pensamento trará muitos benefícios para diversos profissionais e para as empresas. E o meio ambiente só tem a ganhar com essa parceria", ressaltou.
Fonte:http://www.diariodovale.com.br/