A ciência à procura de indícios do Dilúvio
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A ciência à procura de indícios do Dilúvio


Iluminura mongol, reprodução contemporânea de uma pintura alusiva da Arca de Noé
Iluminura mongol, reprodução contemporânea
de uma pintura alusiva da Arca de Noé
Luis Dufaur



Na tradição unânime dos povos da Antiguidade, o Dilúvio se apresenta como um fato histórico incontestável. E o Livro do Gênesis fornece a melhor descrição.

Porém, devido à grande distância no tempo, certas perguntas afloram continuamente nos espíritos.

Uma delas – não a única – gira em volta da seguinte interrogação: como é que pode ter acontecido um fenômeno tão colossal e tão universal?

A Bíblia é suficiente para a Fé. Mas o que diz a ciência?

Há provas dele? Se há, onde estão?

Se não há, quem fala claramente e põe o dedo na chaga?

Assim como o texto bíblico e a Fé são claros, a ciência se enche de teorias e experiências de diversos tipos, sem ter chegado até agora a um consenso.

A ciência não pode menosprezar a opinião unânime dos povos antigos. E de fato não o faz. Há muito saiu à procura de uma explicação. Até o momento ela não achou nenhuma explicação que reúna um certo consenso científico.

Porém está trabalhando com vultosos gastos, o que não faria caso achasse que o Dilúvio é um mero mito.

O arqueólogo submarino Robert Ballard é um dos mais famosos na especialidade. Foi ele quem descobriu em 1985 o casco do Titanic, afundado a 3.798 metros de profundidade; o couraçado Bismarck em 1989, e em 1998 os restos do porta-aviões USS Yorktown, afundado em 1942 na batalha de Midway.

Ballard e sua equipe defendem ter achado as provas de que o Dilúvio bíblico aconteceu efetivamente. Seus trabalhos são patrocinados pela “National Geographic Society”, que vem promovendo estudos geográficos desde 1888.

Em entrevista à ABC News, ele defendeu ter identificado restos de uma antiga civilização sepultada pelas águas no tempo de Noé, nas profundezas do Mar Negro, próximo da Turquia.


Ballard utilizou um submergível robótico equipado com câmaras com controle remoto mais avançadas do que as que permitiram a localização dos restos do Titanic.

Trabalhos do Dr. Robert Ballard são patrocinados pela National Geographic Society dos EUA.
Trabalhos do Dr. Robert Ballard são patrocinados
pela National Geographic Society dos EUA.
Ele parte do pressuposto de que há 12.000 anos boa parte do mundo estava coberta pelo gelo, mas que seu posterior derretimento despejou grandes quantidades de água nos oceanos, produzindo enchentes em todo o mundo.

Mas enchente não é o mesmo que Dilúvio. Este é um fenômeno muito maior, que Ballard chama de “mãe de todas as enchentes”.

No fim dos anos 90, os geólogos da Universidade Columbia, EUA, William Ryan e Walter Pitman, afirmaram a tese de que um grande dilúvio aconteceu no Oriente Médio como resultado do derretimento do gelo da última Idade Glacial por volta de 7.000 anos atrás. A datação é muito próxima da época do Dilúvio bíblico.

Naquela época, existia no lugar do Mar Negro um lago de água doce, e as férteis terras circunvizinhas eram ocupadas por produtivas fazendas.

Quando o nível dos oceanos subiu, o Mar Mediterrâneo arrebentou as defesas naturais que o separavam daquele lago com uma força 200 vezes superior à das cataratas do Niágara, alagando de modo pavoroso as regiões em volta do Mar Negro, que passou desde então a ser um mar de água salgada.

“Nós fomos lá procurando o dilúvio, explicou Ballard. Não apenas um certo movimento, ou um aumento do nível do mar, mas realmente um grande dilúvio que teria acontecido”.

A identificação de uma antiga linha costeira a 120 metros de profundidade provou aos olhos de Ballard que um evento catastrófico aconteceu no Mar Negro.

A datação pelo teste do carbono das conchas colhidas nessa linha costeira apontaria para uma data próxima do ano 5.000 a.C., quer dizer a data estimada do Dilúvio de que fala o Gênesis.

“Deve ter sido um dia terrível, continua Ballard. “Num momento não imaginável, isso arrebentou e inundou a região e um monte de fazendas, algo assim como 150.000 quilômetros quadrados de terra que ficaram embaixo da água”.

Ballard não procura a Arca de Noé, mas provas de que todo um mundo limitado desapareceu sob as águas há 7.000 anos.

Não adianta comparar com o tsunami de 2004 ou o furacão Katrina e supor que os homens mitificaram a catástrofe e inventaram o Dilúvio.

“Começamos achando estruturas feitas por homens, diz Ballard. Também muitos restos de cerâmicas e até o antigo casco de um barco, “perfeitamente preservado nas partes de madeira e o que parecem ser ossos humanos”.

A preservação se deve a que o Mar Negro não tem quase oxigênio e os processos de decomposição são muito lentos. Não longe dali já havia sido descoberto um barco afundado por volta do ano 500 a.C.

Infográfico da hipótese do Dilúvio no Mar Negro.
Infográfico da hipótese do Dilúvio no Mar Negro.
Fred Hiebert, arqueólogo da Universidade de Pennsylvania e membro da equipe de Ballard, disse a “The Guardian” que eles não procuram apenas objetos, mas toda uma civilização de há milhares de anos.

“Na verdade, nós não podemos dizer de modo algum que isso foi o Dilúvio bíblico. A única coisa que podemos dizer é que houve uma inundação maiúscula que atingiu o povo que aqui vivia”, acrescentou.

Uma série de expedições entre 1998 e 2005, promovidas por governos europeus como o da França e o da Romênia, prosseguidas depois por um projeto Pan-Europeu, analisaram sedimentos no local e confirmaram a conclusão de Pitman e Ryan que inspiraram Ballard.

A teoria e os trabalhos da equipe de Ballard são sugestivos, mas não são probatórios. Ele mesmo reconhece que será necessária muita investigação submarina no local para se fazer uma afirmação científica.

Tampouco é uma teoria professada por outros.

E, como se fosse pouco, não responde a uma das maiores perguntas: como se deve entender a característica “universal” do Dilúvio?

Segundo alguns, pode-se achar que o “universal” de que fala a Bíblia e a tradição geral tem o sentido que passou por cima de toda a parte da terra habitada pelos homens.

Como naquela época os homens eram pouco numerosos e viviam todos juntos numa mesma área, o “universal” deveria se entender no sentido de que foi coberta toda essa área, mas não necessariamente o mundo todo.

A Arca no Monte Ararat. Simone de Myle, 1570.
A Arca no Monte Ararat. Simone de Myle, 1570.
Porém, outros defendem que todo o planeta foi coberto pelas águas. Teriam coberto até montanhas como o Himalaia?

Em terceiro lugar está a posição dos que defendem que o Dilúvio foi “universal” não no sentido geográfico, mas antropológico. Quer dizer, destruiu a totalidade da raça humana. Obviamente, com a exceção de Noé e sua família.

O tema suscita paixão e por isso exige prudência e circunspecção.

Segundo a Enciclopédia Católica, “muito poucos Padres da Igreja tocaram na questão ex professo. Entre eles há alguns que restringem o Dilúvio a algumas partes da superfície terrestre sem incorrer em censuras por ofender a tradição”.

E a ciência? Está trabalhando. Aguardemos o que ela possa vir a nos dizer.

Para nós, acaba sendo mais importante o que Nosso Senhor nos disse a respeito de sua futura vinda:

“37. Assim como foi nos tempos de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem.

“38. Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca.

“39. E os homens de nada sabiam, até o momento em que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho do Homem.” (Mateus, 24, 37ss)

O tema do dilúvio não se esgota aqui e esperamos voltar ainda a tratar de outros aspectos.





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