Ciência e Tecnologia
A mais antiga fábrica de vinho e o Patriarca Noé
A mais antiga unidade de produção de vinho jamais encontrada tem cerca de 6 mil anos. Ela foi desvendada na Armênia segundo noticiou o diário de Paris “Le Monde”.
Os arqueólogos até identificaram a safra de vinho tinto seco ali produzida, utilizando técnicas bioquímicas. A descoberta foi publicada na revista científica
Journal of Archaeological Science.O estudo foi realizado em conjunto por órgãos acadêmicos e científicos dos Estados Unidos, Irlanda e Armênia.
“Essa é a mais antiga instalação para fabricação de vinho já conhecida no mundo”, explicou Gregory Areshian, responsável pelos trabalhos e vice-diretor do Instituto de Arqueologia Cotsen, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA).
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Cavernas de Areni, Armênia, local da descoberta |
As escavações foram feitas num complexo de cavernas, conhecido como Areni-1, na província armênia de Vayots Dzor, Pequeno Cáucaso, perto da fronteira da Armênia com o Irã. O vinho se destinava para o culto.
Perto de uma prensa de vinho foi também identificada uma videira desidratada, cultivada em torno de 4.000 a.C.
A mais antiga produção vinícola até então conhecida era a encontrada no túmulo do rei egípcio Scorpion I, antiga de 5.100 anos.
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A fábrica de vinho |
Na mesma caverna da Armênia, a equipe desenterrou em 2009 o sapato de couro mais antigo do mundo, com aproximadamente 5.500 anos.
As uvas eram esmagadas numa bacia de argila rasa com cerca de 1 metro de diâmetro. Em volta dela foram recolhidas sementes e uvas secas. O suco era obtido pisando descalço sobre as frutas, disse Areshian.
Foram recolhidos equipamentos de cobre para processar o vinho, vasos impregnados do vinho e até uma taça e um bol.
“Essa foi uma instalação relativamente pequena, relacionada a um ritual dentro da caverna. Para o consumo diário, os moradores teriam prensas muito maiores em estabelecimentos normais”, acrescentou Areshian, que também foi primeiro-ministro adjunto do primeiro governo da República da Armênia independente, em 1991.
Na região dessas cavernas a cultura do vinho é muito antiga e são produzidos bons vinhos tintos das cepas Merlot e Cabernet Sauvignon.
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Uvas secas no local |
Patrick McGovern, diretor científico do Laboratório de Arqueologia Biomolecular do Museu da Universidade de Pensilvânia, e autor de livros sobre a origem do vinho, mostrou que o tipo de semente recolhida —
Vitis vinifera vinifera — continua sendo aproveitada na região.
McGovern lembrou que “até nas regiões baixas como o antigo Egito onde reinava a cerveja, se exigia vinhos especiais nos oferecimentos funerários; e grandes volumes de vinho eram consumidos nas maiores festas religiosas e reais”.
Num livro, McGovern defende que a “cultura do vinho” se desenvolveu primeiro nas regiões montanhosas da Armênia, a partir das quais se espalhou para as planícies do sul, e posteriormente para o mundo todo.
A descoberta arqueológica sugere uma interessante aproximação.
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A bacia |
Segundo a tradição bíblica a Arca de Noé teria se detido na Armênia, após o dilúvio. E ali teriam descido o Patriarca e seus descendentes.
Provavelmente, ali também teria acontecido o fato descrito na Bíblia em que Noé bebeu do vinho e perdeu os sentidos.
Esta nova descoberta fornece um apoio científico colateral ao relato bíblico.
Aproximação ou apoio colateral não é prova linear, mas ajuda a compor o quadro do acontecimento histórico. E, nesse sentido, fala em favor dos fatos narrados na Bíblia.
O fato de a outra fábrica de vinho mais antiga se encontrar no Egito, mil anos mais nova, nos leva a perguntar se nesse milênio ‒ quer dizer entre o ano 6.000 a.C. da fábrica de vinho armênia e 5.100 a.C. da egípcia ‒ não teria acontecido a dispersão dos povos.
Após a dispersão dos povos, estes teriam partido levando os conhecimentos que eram comuns a todos eles. O fabrico e consumo do vinho, entre eles.
Entretanto, a datação do dilúvio, referência histórica anterior a Babel, e a dispersão apresentam dificuldades que tomariam o espaço de outro post.
A existência e as características do dilúvio são as mais universais das tradições recolhidas nos povos mais afastados, inclusive entre os índios do Brasil.
Assim ensina o Gênesis, 9, sobre o episódio de Noé e o vinho:
20. Noé, que era agricultor, plantou uma vinha.
21. Tendo bebido vinho, embriagou-se, e apareceu nu no meio de sua tenda.
22. Cam, o pai de Canaã, vendo a nudez de seu pai, saiu e foi contá-lo aos seus irmãos.
23. Mas, Sem e Jafet, tomando uma capa, puseram-na sobre os seus ombros e foram cobrir a nudez de seu pai, andando de costas; e não viram a nudez de seu pai, pois que tinham os seus rostos voltados.
24. Quando Noé despertou de sua embriaguez, soube o que lhe tinha feito o seu filho mais novo.
25. “Maldito seja Canaã, disse ele; que ele seja o último dos escravos de seus irmãos!”
26. E acrescentou: “Bendito seja o Senhor Deus de Sem, e Canaã seja seu escravo!
27. Que Deus dilate a Jafet; e este habite nas tendas de Sem, e Canaã seja seu escravo!”
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