Publicado no AOL-Educação em 21/02/2006
Há cerca de 500 anos a humanidade viveu a época das Grandes Navegações, na qual destemidos grupos de navegadores europeus lançaram as suas embarcações ao Oceano Atlântico para encontrar rotas de navegação que os levassem ao Oriente para poder ampliar o comércio de especiarias e seda. Eram apenas barcos de madeira que dependiam da vontade dos ventos para poder navegar. Essas expedições, perigosas e custosas, tanto do ponto de vista financeiro como humano, acabaram descobrindo muito mais do que o “Caminho para as Índias”, como era chamada a rota marítima para o atingir a Índia e a China, mas também levaram a descoberta de um "Novo Mundo", como foi chamada a América. Naquela época de poucos recursos técnicos, quando comparado ao dias de hoje, ocorreu a primeira grande exploração planetária realizada pelo Homem. Os feitos realizados pelos navegadores portugueses, por exemplo, foram imortalizados pelos versos de Camões no seu épico “Os Lusíadas”, o qual ressalta a grande viagem realizada por Vasco da Gama.
O principal guia para os navegantes daquele tempo eram as estrelas. A partir do conhecimento das constelações e da marcação do tempo era possível determinar a posição dos navios. Quando eles cruzaram o Equador e começaram a explorar o Hemisfério Sul foram identificadas novas constelações. Uma das mais famosas é ao do Cruzeiro do Sul. Outras constelações foram batizadas com nomes de objetos importantes para esses navegadores, como a constelação do Telescópio, da Bússola, do Sextante (instrumento utilizado navegação) etc.
Nos dias de hoje, as estrelas ainda são utilizadas para encontrar o caminho para novos mundos. Ao explorar o sistema solar, da mesma forma que os antigos navegantes, utiliza-se as posições das estrelas como guia para as espaçonaves. A denominação espaçonave significa "embarcação espacial". Para navegar no espaço sideral é necessário conhecer os caminhos das estrelas.
Os navegantes espaciais ainda realizam jornadas muito curtas, quando comparadas com as dimensões do sistema solar. As viagens mais longas realizadas foram as dos astronautas do programa Apollo, da Nasa, há cerca de 37 anos, quando pousaram na Lua. Foi como navegar por 12 metros no Canal da Mancha, que tem em sua parte mais larga 240 km.
Entretanto, atualmente as explorações de novos mundos são realizadas por navegantes que guiam as suas naus à distância de milhões de quilômetros. Desde das primeiras tentativas na década de 60 do século passado até as recentes sondas lançadas, como a “New Horizons” (Novos Horizontes) enviada pela Nasa em janeiro de 2006 para estudar Plutão - que fará uma viagem de aproximadamente 9 anos para atingir o seu objetivo - fantásticos descobrimentos têm ocorrido nessas jornadas. As solitárias espaçonaves nos mostraram mundos quentes o suficiente para derreter chumbo ou frios a ponto de transformar o oxigênio e o nitrogênio em líquidos e deixariam, com certeza, os navegantes do século XVI e XVII espantados.
Um das grandes questões do momento é a viabilidade da exploração espacial. Os custos dessa empreitada são enormes e somente poucos países têm o conhecimento e recursos para tal. Da mesma forma que os navegantes europeus guardavam como segredo de Estado as rotas de navegação para o Oriente, os países que dominam essas tecnologias não as repassam facilmente para outros. O Brasil ainda engatinha nessa área, que sem dúvida é estratégica para uma nação que pretende atingir um grau de desenvolvimento compatível com outras. Países como a China já enviaram as suas próprias espaçonaves para o espaço, inclusive enviando astronautas. O Brasil investe há vários anos no desenvolvimento de satélites de sensoriamento remoto e na construção de um veículo lançador de satélites, pois devido a nossa localização, próxima a linha do equador, é mais barato lançar satélites dessa posição. No final do mês de março o primeiro astronauta brasileiro irá para uma missão de uma semana na Estação Espacial Internacional, a qual o Brasil consta como um dos participantes da sua construção. Entretanto, a viagem ocorrerá a bordo da nave russa Soyuz e custará para o nosso país cerca de US$ 10.000.000,00. Durante a sua estadia na estação serão realizados alguns experimentos pelo nosso astronauta, entre eles o estudo da germinação de sementes em ambiente de baixa gravidade.
Essa viagem tem gerado muita polêmica, pois um investimento desse tamanho, para um país como o nosso, é muito grande e talvez com pouco retorno científico, uma vez que para o desenvolvimento de qualquer atividade científica é necessário continuidade, algo que não temos como garantia, pois não sabemos quando teremos novamente essa chance. O próprio diretor do CTA (Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial) afirmou que o maior retorno será a visibilidade do programa espacial brasileiro, como foi reportado no jornal Folha de S.Paulo em 15 de fevereiro.
Independente da capacidade do astronauta, que já treina há vários anos na NASA, talvez o Brasil pudesse investir essa quantia em outras áreas mais importantes para o desenvolvimento da tecnologia espacial, ou mesmo da pesquisa científica. Fazer apenas uma viagem de 360 km acima da superfície da Terra possivelmente não mudará muita coisa se não houver de fato uma continuidade nessa jornada. Será apenas como molhar os pés na praia do imenso oceano cósmico.