Ciência e Tecnologia
Física Quântica e o Poder da Mente
Como a física quântica está relacionada com o poder da mente e a cura pelo pensamento? Física quântica é a parte da física que descreve o comportamento da luz, de átomos e de partículas como o elétron. Assim como a física clássica te permite descrever o movimento de uma bola quando é chutada por um jogador de futebol, a física quântica te permite descrever o que acontece com um elétron quando ele passa próximo de um ímã, por exemplo.
Por que não aprendemos quântica na escola? Simplesmente por que para estudar física quântica precisamos de algumas coisas como equações diferenciais parciais e álgebra linear, coisas que só costumam ser estudadas no ensino superior. Por que precisamos dessas coisas? Quando queremos calcular o movimento de uma bola atirada para cima no segundo grau, utilizamos uma equação do tipo
$ \Delta s (t) = v_0 t - \frac{1}{2}g t^2 $
para descrever a variação do movimento $ \Delta s $ em função do tempo, com a bola sujeita a uma aceleração constante
g. Para testar, arremessamos uma bola para cima e verificamos quanto ela se deslocou em cada instante de tempo. E vemos que a equação acima funciona muito bem. Para fazer a mesma coisa com um elétron que se move, uma equação parecida não funciona mais. Precisamos de equações diferentes, coisas como
$ i \hbar \frac{\partial}{\partial t} \psi(x,t) = \left[ -\frac{\hbar}{2m} \frac{\partial^2}{\partial x^2} + U(x,t) \right] \psi(x,t) $
Por que uma equação simples como a primeira não funciona mais? Seria lindo se a física atômica pudesse ser explicada utilizando nossa matemática de segundo grau. E por algum tempo físicos tentaram explicar o comportamento de átomos dessa maneira "clássica". Mas simplesmente não funcionou. Quando você tentava explicar um elétron como uma "bolinha" sujeito a forças, suas equações deixavam de estar de acordo com o que era observado nos experimentos. No entanto, se considerassem os elétrons como se fossem ondas de algum tipo, as equações voltavam a explicar os fenômenos. Além disso, efeitos tipicamente ondulatórios também aparecem nos fenômenos atômicos, como interferência, ressonância e batimentos.
Ondas de que? Quando estudamos o som, sabemos que este é provocado por uma onda de pressão no ar, regiões de alta e baixa pressão que se alternam rapidamente. Quando estudamos ondas eletromagnéticas (tipo ondas de rádio), aprendemos que essas são variações de campos elétricos e magnéticos. Ondas costumam ser "de algo". E essas "ondas" do elétron, o que são? A resposta curta é: ninguém sabe direito. Alguns dizem simplesmente que não importa, o que importa é que é uma ferramenta matemática que funciona. Outros, baseados no fato de que essas ondas que aparecem nas equações estão relacionadas com a probabilidade de encontrar o elétron em alguma posição, dizem que essas ondas são "ondas de probabilidade". Outros dizem que na verdade é tudo partícula mas com uma física desconhecida que não é nem clássica nem ondulatória, mas que acaba parecendo ondulatória.
Essas várias maneiras de entender as equações são chamadas de
interpretações da mecânica quântica. Existem várias outras. Cada uma tem méritos e problemas sérios, e cada uma possui defensores e combatedores dentro do mundo científico. As sobreviventes hoje explicam igualmente bem os fenômenos, mas com concepções
filosóficas bastante distintas.
Vou focar em uma delas, a
interpretação ondulatória realista, que eu já mencionei acima. Ela diz que tudo são "ondas de probabilidade", que tem uma existência real, ainda que anti-intuitiva. Ou seja, o tratamento ondulatório não é um truque matemático que simplesmente funciona, mas descreve o que realmente
é o elétron.
Ok, é uma onda, qual a polêmica nisso? Ao contrário das ondas usuais (de som ou na superfície da água, por exemplo), as ondas aqui tem uma característica bem diferente. Se eu estouro um balão o som dessa explosão se propaga em todas as direções. Se eu escuto o som do estouro em um lado, outra pessoa pode tranquilamente escutar o som do outro lado.
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(a) Uri (esquerda) e James (direita) estão prontos para ouvir o som de um balão estourando; (b) O balão é estourado e a onda sonora se propaga nas duas direções; (c) James escuta o som, mas a onda ainda não chegou em Uri; (d) Uri escuta o som também. |
No caso das ondas na física quântica, a coisa é diferente. Se um elétron é emitido com 50% de chance de ser encontrado na esquerda e 50% de chance de encontrar na direita, representamos isso com uma onda dividida entre esquerda e direita. Esse "encontrar" é feito com um detector. No caso do som, esse detector é o nosso ouvido. A diferença é que se detectamos o elétron de um lado, nunca a pessoa do outro lado vai detectar também. O elétron continua sendo um só, por mais que sua onda correspondente estivesse "dividida" entre a esquerda e a direita.
Para várias interpretações, isso não é nenhum problema. Para a interpretação ondulatória, é. Significa que a onda do elétron, depois da primeira detecção, deixou de existir em todos os outros lugares. Isso recebe um nome, chamado
colapso da função de onda. Se a onda do elétron é real, a nossa medição faz com que, instantaneamente, a onda do elétron no restante do universo se torne zero.
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(a) Um elétron é emitido, com igual probabilidade de ser encontrado na esquerda ou na direita. Na interpretação ondulatória, a onda do elétron se propaga nas duas direções. Dinah e Quevedo possuem detectores de elétrons, prontos para serem usados. (b) O detector de Quevedo apita. Na interpretação ondulatória, a detecção provoca um colapso da função de onda do elétron na direita, fazendo com que a onda do lado esquerdo deixe de existir. Dinah não será mais capaz de detectar nenhum elétron, pois não existe mais onda em sua direção. |
Quem leva essa interpretação a sério se preocupa com isso. Entre os vários pontos de preocupação, está a pergunta "o que exatamente causa o colapso?". Isto é, esse
colapso da onda ocorre quando o elétron interage com o detector, quando o detector apita ou quando eu escuto o apito? Alguns físicos mais radicais defendiam que o colapso da função de onda era provocado pela nossa
consciência do experimento. Em outras palavras, a
consciência afetaria a realidade, ou pelo menos um aspecto dela.
Esses pontos deram origem à proliferação de ideias bastante extremas, de como a realidade é afetada pela consciência. Em conjunto com religiões e concepções de mundo que já defendiam a influência do pensamento na realidade, a física quântica entrou como uma suposta "comprovação científica" para essas ideias.
Quero chamar atenção para alguns pontos. Primeiro,
não é a física quântica que dá suporte a essas ideias, mas sim uma das várias interpretações da física quântica, e uma versão bem extrema dela. Além disso, mesmo se essa interpretação radical for verdade, ela
não diz que "tudo é possível, basta acreditar", ela só diria que a
consciência de um fenômeno afeta o fenômeno, e não a vontade.
Eu posso até "querer" que um elétron seja detectado simultaneamente por mim e pelo cara do outro lado ao mesmo tempo,
mas isso nunca vai acontecer. A interpretação só diz que, se eu "souber" que o elétron está do lado de cá, sua onda de probabilidade deixa de existir do lado de lá.
Ou seja, se tem um físico te dizendo que a física quântica prova que você pode afetar a realidade, basta acreditar, ou ele não sabe nada de física quântica, ou ele está te fazendo de otário.
Infográficos: Isabel AlencarUm outro texto interessante sobre o assunto, numa outra perspectiva. no aqui. Mais sobre quântica e o Gato de Schrödinger, aqui. Sobre outros pontos da física quântica usada por picaretas para ganhar dinheiro fácil, aqui.
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